O feminicídio é o misógino
assassinato de mulheres por homens ou “o assassinato de mulheres por homens
porque são mulheres” (Diana Russel). É perpetrado por homens machistas,
possessivos, ciumentos e violentos. As motivações são o ódio, os ciúmes, o
despeito, o sadismo. É comum o sujeito estar sob o efeito de drogas ou álcool
quando passa ao ato.
Paradoxalmente, o lugar mais
perigoso para a mulher é o lar, onde convive com o homem, seja marido, amante,
pai ou irmão.
Este crime misógino é uma forma
de violência sexual, implicando o desejo de poder, de domínio e de controle do
homem numa sociedade patriarcal. O patriarcalismo tem origens muito remotas.
Teria começado em tempos imemoriais quando as mulheres, naturalmente retraídas
e esquivas, eram pegas à força pelos homens -mais fortes-, e arrastadas para
dentro das cavernas. Mantinham-nas prisioneiras, para servir-se delas, como
companhia permanente de suas vidas. Assim, constituíram-se as famílias, que
governavam como “ciclópicos impérios” sobre suas mulheres e seus filhos (Vico).
Isto implicava a superioridade de gênero e o sentimento de posse (gerador de
ciúmes).
Os homens têm tendência a
considerar as mulheres como “propriedade” sexual e reprodutiva. O “título” de
posse é semelhante à de um bem material, terreno ou moradia por exemplo.
Historicamente, os proprietários de escravos, servos, mulheres e crianças
podiam desfrutar de seus “bens” como se lhes conviesse.
O feminicídio é principalmente
uma manifestação de possessividade e de ciúme. É desencadeado por uma ameaça de
separação ou de abandono do lar. Na maioria das vezes, a esposa ou amante tem
outro relacionamento. Isto pode precipitar um acesso de fúria narcísica,
motivado por uma necessidade de vingança insaciável.
Esta conduta revela que a
dominação masculina é também uma armadilha, condicionando-o a afirmar cegamente
sua virilidade. Torna-se uma questão de honra, que o “obriga” a agir, regido
pelo seu inconsciente falonarcísico. “A ordem social funciona como uma imensa
máquina simbólica, tendendo a ratificar a dominação masculina sobre a qual é
fundada. A virilidade, entendida como capacidade reprodutiva, sexual e social,
mas também como predisposição ao combate e ao exercício da violência
(principalmente na vingança), é antes de tudo uma carga” (Bourdieu).
Este sociólogo desvela a dimensão
política do casamento (uma das primeiras instituições da cultura), cujo
interesse masculino seria a acumulação de capital simbólico e social (honra).
As mulheres seriam objetos ou bens simbólicos (dons) das trocas no mercado
matrimonial.
Portanto, a maioria dos casos de
feminicídio está relacionada com o ciúme do homem. Este afeto é um derivado da
disposição masculina de posse da mulher com quem tem um relacionamento íntimo. A
influência da tradição patriarcal rege o inconsciente androcêntrico.
“Se não vai viver comigo, não irá
viver”, sentenciou um feminicida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário