quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O FEMINICÍDIO


O feminicídio é o misógino assassinato de mulheres por homens ou “o assassinato de mulheres por homens porque são mulheres” (Diana Russel). É perpetrado por homens machistas, possessivos, ciumentos e violentos. As motivações são o ódio, os ciúmes, o despeito, o sadismo. É comum o sujeito estar sob o efeito de drogas ou álcool quando passa ao ato.
Paradoxalmente, o lugar mais perigoso para a mulher é o lar, onde convive com o homem, seja marido, amante, pai ou irmão.
Este crime misógino é uma forma de violência sexual, implicando o desejo de poder, de domínio e de controle do homem numa sociedade patriarcal. O patriarcalismo tem origens muito remotas. Teria começado em tempos imemoriais quando as mulheres, naturalmente retraídas e esquivas, eram pegas à força pelos homens -mais fortes-, e arrastadas para dentro das cavernas. Mantinham-nas prisioneiras, para servir-se delas, como companhia permanente de suas vidas. Assim, constituíram-se as famílias, que governavam como “ciclópicos impérios” sobre suas mulheres e seus filhos (Vico). Isto implicava a superioridade de gênero e o sentimento de posse (gerador de ciúmes).
Os homens têm tendência a considerar as mulheres como “propriedade” sexual e reprodutiva. O “título” de posse é semelhante à de um bem material, terreno ou moradia por exemplo. Historicamente, os proprietários de escravos, servos, mulheres e crianças podiam desfrutar de seus “bens” como se lhes conviesse.  
O feminicídio é principalmente uma manifestação de possessividade e de ciúme. É desencadeado por uma ameaça de separação ou de abandono do lar. Na maioria das vezes, a esposa ou amante tem outro relacionamento. Isto pode precipitar um acesso de fúria narcísica, motivado por uma necessidade de vingança insaciável.
Esta conduta revela que a dominação masculina é também uma armadilha, condicionando-o a afirmar cegamente sua virilidade. Torna-se uma questão de honra, que o “obriga” a agir, regido pelo seu inconsciente falonarcísico. “A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica, tendendo a ratificar a dominação masculina sobre a qual é fundada. A virilidade, entendida como capacidade reprodutiva, sexual e social, mas também como predisposição ao combate e ao exercício da violência (principalmente na vingança), é antes de tudo uma carga” (Bourdieu).
Este sociólogo desvela a dimensão política do casamento (uma das primeiras instituições da cultura), cujo interesse masculino seria a acumulação de capital simbólico e social (honra). As mulheres seriam objetos ou bens simbólicos (dons) das trocas no mercado matrimonial.  
Portanto, a maioria dos casos de feminicídio está relacionada com o ciúme do homem. Este afeto é um derivado da disposição masculina de posse da mulher com quem tem um relacionamento íntimo. A influência da tradição patriarcal rege o inconsciente androcêntrico.
“Se não vai viver comigo, não irá viver”, sentenciou um feminicida.




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