O Brasil é uma democracia, cuja
principal característica é a escolha dos governantes pelo sufrágio universal.
Detenhamo-nos, portanto, em algumas características do “povo”, soberano no
regime democrático.
Segundo o sociólogo José de Souza
Martins, a sociedade brasileira foi historicamente edificada sobre escravidões.
A abolição da escravatura indígena ocorreu em 1755 e a da escravidão negra, em
1888. Esta pesada herança contribuiu para a mentalidade milenarista (misticismo)
do povo brasileiro, “a mais forte expressão do nosso atraso político e social.
”
Explica, parcialmente, a escandalosa
repartição de renda no país e o enorme contingente de pobres.
Em 1985, finda a ditadura, uma
emenda constitucional assegurou aos analfabetos o direito de votar. Entre 2007 e 2008, o número absoluto de
analfabetos adultos aumentou e chegou a 14,247 milhões.
Vamos procurar num pensador da
Antiguidade a solução do enigma enunciado no título. Trata-se de um diálogo de
Platão contido no capítulo VI da “República”. Apresentaremos nossa
interpretação simultaneamente.
Interrogado por um dos
participantes do diálogo sobre a razão de serem os Estados tão mal
administrados, Platão responde por uma imagem. Pede que se imagine uma situação
hipotética, ocorrendo a bordo de um navio.
“-O patrão, em tamanho e em
força, ultrapassa todos os membros da equipagem, mas é um pouco surdo, um pouco
míope e tem, em matéria da navegação, conhecimentos tão curtos como sua vista.”
Deduzimos que, para Platão, o
patrão representa o povo, soberano na democracia. O diálogo prossegue:
“-Os marinheiros disputam entre
si o leme: cada um acha que é seu direito tê-lo, embora não conheça a arte, e
que não possa dizer sob qual mestre, nem quando a aprendeu. Mais ainda, pretendem
que não seja uma arte que se aprenda(...)”
Para Platão, a política constitui
uma forma de ciência, que implica numa aprendizagem.
“-Sem cessar em torno do patrão,
insistem em seus pedidos e usam de todos os meios para que lhes confie o leme.
”
Os candidatos usam de todos os
truques para serem eleitos: compra de votos, curral eleitoral, demagogia,
populismo, marketing, etc.
“-Tornados mestres do navio,
apropriam-se de tudo o que contém e, bebendo e festejando, navegam como podem
navegar gente deste tipo”.
A referência é evidente à
apropriação dos bens públicos, à corrupção, no mais puro modo patrimonialista.
Quanto ao desastre para onde o Estado é levado, fica subentendido o naufrágio.
“-Por outro lado, quanto ao
verdadeiro piloto, nem duvidam que deva estudar o tempo, as estações, o céu, os
astros e os ventos, se quiser realmente tornar-se capaz de conduzir um navio;
quanto à maneira de comandar (...), não acreditam que seja possível aprendê-la,
pelo estudo e pela prática, juntamente com a arte de pilotar. ”
Fica claro que, além das
qualidades de personalidade e de liderança (“o Rei-filósofo”), o candidato deve
ter aprendido a governar.
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