Coloquemos em foco três fatos
sociais recentes: as jornadas de junho de 2013, as manifestações de protesto de
2015 e a greve (motim) dos caminhoneiros de 2018.
Procuremos analisa-los para
encontrar seu sentido e o elo comum entre eles. Neles, indivíduos isolados, espalhados
numa constelação difusa na sociedade, foram aglutinados numa multidão (Negri),
através das redes sociais (pontos de link). O que levou esta massa a virar
consciência coletiva da sociedade? O que mobilizou indivíduos, cuidando de seus
próprios negócios, a se voltarem para o coletivo? Claro que no caso dos
caminhoneiros estava posta uma reivindicação setorial no desencadeamento do
movimento, mas depois houve articulação com a esfera pública. É evidente que,
no caso das jornadas de junho, a majoração em 20 centavos no preço do bilhete
de ônibus na cidade de São Paulo foi apenas um estopim.
O que estava represado em cada um
que forçou uma saída, expressando-se num grito de indignação fusionado?
O desespero diante uma realidade
insuportável, intolerável: viver numa sociedade que repete uma segunda barbárie,
pior que a primeira da época da colonização. A violência é seu ferro. A nação
brasileira encontra-se num processo de regressão, de dissolução do grau de
civilização que havia alcançado.
Brotou uma necessidade imperiosa de agir, de
alguma forma, para modificar este arranjo teratológico. A forma foram as manifestações
multitudinárias, cujo ícone era ser “sem partido”, ou a frase “vocês não me
representam”, sintetizando a crise de representação.
O que se expressava era a revolta
contra um sistema político apodrecido (os três poderes, mais a elite da
burocracia) que capturou o Estado.
Mosca afirma que, em todas as
sociedades, existem duas classes de pessoas. A primeira, minoritária,
monopoliza o poder e desfruta das vantagens que proporciona, enquanto a
segunda, a maioria, é dirigida e controlada e supre a outra com meios privilegiados
de subsistência.
Este é o conflito central da
sociedade brasileira neste início do século XXI, sob o impacto da globalização.
O antagonismo entre uma sociedade civil submetida a uma carga tributária de 35%
do PIB sob dominação de um Estado patrimonialista, corrupto, ineficiente,
irracional e hipertrofiado.
E diante de tanta inconformidade,
insurreição mesmo, como reagiu a classe política, o establishment?
Só fez acentuar sua couraça
pétrea num reflexo de defesa de seus privilégios. Boiando sobre a sociedade
civil, aí pretende ficar gozando do excedente que extrai das forças produtivas
da nação.
Para a perpetuação no poder,
criou um mecanismo perverso: um fundo eleitoral milionário, com verbas
públicas, destinado aos partidos políticos (entes privados). Ou seja, congelou
o que a multidão tinha posto em movimento.
Este é o cenário para as eleições
de 2018. A multidão ficou “a ver navios” e os “mortos-vivos” estão mais vivos
do que nunca.
É uma mistura explosiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário