O jornalista Eugênio Bucci publicou este artigo sobre as
eleições (Estadão 30/08/201). Como faz parte da intelligentsia de esquerda,
gostaríamos de submeter o escrito a uma análise crítica, isto é, ler nas
entrelinhas para melhor revelar as intenções do autor.
Nas linhas introdutórias, explicita que a “mitologia” será
sobre o candidato que lidera as pesquisas, posto para fora do pleito. E cita o
mito de Freud, em “Totem e Tabu”: “O pai
morto tornou-se mais forte do que o fora vivo”. Desafiemos se conseguirá
demonstrar o axioma.
Cita o discurso do condenado
Danton, na Revolução Francesa, que se encaixa como uma luva na defesa de Lula.
O leitor cai na armadilha: acha que estaria se referindo ao líder preso, mas é
induzido, pela semelhança, a concluir que outros já tinham sido injustiçados da
mesma forma. Nada conta sobre a peça acusatória, que era sobre corrupção.
Danton “avisa a seus carrascos
que não conseguirão apaga-lo da vida nacional, pois ele não é mais um homem
comum. Suplantou a condição humana e atingiu outra dimensão”. Interroga: “Por
que é preciso me matar? Devo morrer porque digo a verdade. Devo morrer porque
assusto. ” Apela para o sobrenatural, como alguém transfigurado em mito: “Sou
imortal, porque sou o povo! O povo está comigo! ”
Como não adianta mais recorrer
aos fatos, apela para o sobrenatural. Bucci toma partido nitidamente. Na
comparação com Lula, fica com a perspectiva do acusado: “a farsa judicial é
flagrante”. Anula as instâncias judiciárias que o julgaram legalmente, com base
em provas documentais e de testemunhas.
Omite a condição de mito de Lula,
construído desde o início de sua carreira política, pela ação de intelectuais e
membros do clero.
Bucci, referindo-se a Danton
evidentemente, faz a comparação com o célebre julgamento de Sócrates. A ironia
é que Sócrates preocupou-se, na agonia, a saldar a dívida de um galo! Então, a
comparação com Danton (e Lula) fica meia forçada...
Num momento de típica atitude de
alguém da esquerda democrática, nosso autor põe em dúvida se a História
absolverá o stalinista Fidel Castro. Podemos lhe devolver a dúvida: será Lula
perdoado?
Conseguirá nosso “Antônio
Conselheiro Pós-moderno” (o totem) transferir seu manancial de votos dos
grotões para o poste da vez?
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