terça-feira, 4 de setembro de 2018

DESCONSTRUINDO A ELEIÇÃO TOTEMICA


O jornalista Eugênio Bucci publicou este artigo sobre as eleições (Estadão 30/08/201). Como faz parte da intelligentsia de esquerda, gostaríamos de submeter o escrito a uma análise crítica, isto é, ler nas entrelinhas para melhor revelar as intenções do autor.
Nas linhas introdutórias, explicita que a “mitologia” será sobre o candidato que lidera as pesquisas, posto para fora do pleito. E cita o mito de Freud, em “Totem e Tabu”:  “O pai morto tornou-se mais forte do que o fora vivo”. Desafiemos se conseguirá demonstrar o axioma.
Cita o discurso do condenado Danton, na Revolução Francesa, que se encaixa como uma luva na defesa de Lula. O leitor cai na armadilha: acha que estaria se referindo ao líder preso, mas é induzido, pela semelhança, a concluir que outros já tinham sido injustiçados da mesma forma. Nada conta sobre a peça acusatória, que era sobre corrupção.  
Danton “avisa a seus carrascos que não conseguirão apaga-lo da vida nacional, pois ele não é mais um homem comum. Suplantou a condição humana e atingiu outra dimensão”. Interroga: “Por que é preciso me matar? Devo morrer porque digo a verdade. Devo morrer porque assusto. ” Apela para o sobrenatural, como alguém transfigurado em mito: “Sou imortal, porque sou o povo! O povo está comigo! ”
Como não adianta mais recorrer aos fatos, apela para o sobrenatural. Bucci toma partido nitidamente. Na comparação com Lula, fica com a perspectiva do acusado: “a farsa judicial é flagrante”. Anula as instâncias judiciárias que o julgaram legalmente, com base em provas documentais e de testemunhas.
Omite a condição de mito de Lula, construído desde o início de sua carreira política, pela ação de intelectuais e membros do clero.
Bucci, referindo-se a Danton evidentemente, faz a comparação com o célebre julgamento de Sócrates. A ironia é que Sócrates preocupou-se, na agonia, a saldar a dívida de um galo! Então, a comparação com Danton (e Lula) fica meia forçada...
Num momento de típica atitude de alguém da esquerda democrática, nosso autor põe em dúvida se a História absolverá o stalinista Fidel Castro. Podemos lhe devolver a dúvida: será Lula perdoado?
Conseguirá nosso “Antônio Conselheiro Pós-moderno” (o totem) transferir seu manancial de votos dos grotões para o poste da vez?

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