sexta-feira, 7 de setembro de 2018

IDOLATRIA


 A liderança carismática depende da crença disseminada na existência de capacidades extraordinárias ou sobrenaturais.  Max Weber define carisma como “certa qualidade de um indivíduo (personalidade), em virtude da qual é diferenciado das pessoas comuns e tratado como dotado de qualidades sobrenaturais, sobre-humanas ou, pelo menos, excepcionais”. É o reconhecimento por parte dos crentes que o consagra.
Descrevamos, preliminarmente, o contexto de nossa análise psicológica do carisma de Lula. Em nossa percepção, o Estado brasileiro conserva características patrimonialistas, a sociedade está em processo de ruptura com o tradicionalismo (pelo efeito do caráter revolucionário do carisma) e o povo é naturalmente religioso.
Procuremos discernir as condições que tornaram possível a aparição deste chefe político divinizado brasileiro e os sentimentos religiosos e políticos que o impulsionaram ao poder (e o mantém, embora como sujeito oculto).
Um líder sindical metalúrgico, dotado de carisma político, conduziu greves operárias contra o regime militar, tendo sido preso na época (1980). Nasceu, assim, o herói Lula.  Até aqui, nossa narrativa descreve um sindicalista que, em seguida, se transforma em líder de um partido político socialdemocrata.  
Neste ponto de nossa análise, intervém uma operação simbólica de grande relevância histórica. O povo, em seu modo de pensar, experimentou uma conversão interna e investiu (projetou) o líder político com atributos messiânicos. Na fé popular, começou a encarnar o salvador, o homem enviado por Deus – mito que existiu desde sempre.
Como isto foi possível?
A explicação é que o herói proletário se apropriou da “opção preferencial dos pobres” - ideologia da Teologia da Libertação-, e passou a interpretar um carisma semelhante ao profético. “Deus não elege um pernambucano de Caetés todo ano para presidente da República. Não elege um metalúrgico todo ano para presidente da República” (discurso em 25/1/05). Favoreceu-se de uma herança cultural arcaica, submersa no inconsciente coletivo do povo brasileiro.  
E qual foi a dádiva principal para assegurar o bem-estar daqueles que se entregaram com uma fé cega ao herói doravante divinizado?  Foi o auxílio do governo através do programa Bolsa Família. As estatísticas oficiais contabilizam mais de 25% da população beneficiados pelo Bolsa Família.
 A pergunta, inevitável, é a seguinte: se o líder carismático pedir o voto destes beneficiários do Bolsa Família para um(a) político(a) indicado(a) por ele, não é lógico supor que estarão na obrigação de corresponder?

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