terça-feira, 4 de setembro de 2018

AS JORNADAS DE JUNHO


O objeto de nossos comentários são as manifestações de junho de 2013 e do início de 2015 no Brasil. A primeira coisa que chama nossa atenção é o relativo descaso com que foram abordadas pela mídia internacional. Se compararmos com a importância dada à Primavera Árabe, os eventos brasileiros receberam muito menor destaque ou importância, ou pior, houve um grande equívoco em sua interpretação. Por quê? Entendemos que houve um preconceito na mídia internacional contra um “movimento de direita”. Diríamos que a mídia foi influenciada por jornalistas oportunistas de “esquerda”. Restabeleçamos uma narrativa mais ajustada aos fatos.
A iniciativa do Movimento pelo Passe Livre foi transbordada pelas enormes manifestações de junho 2013. Serviu como catalizador do difuso sentimento de indignação da classe média com o regime petista, encarnado na pres. Dilma. A exasperação maior era com a corrupção e com a incúria do governo. Estas manifestações não estruturadas encontraram seu desague no movimento a favor do impeachment. Sabe-se do desfecho deste traumático drama nacional. Este foi apenas o ato final de um processo de deslegitimação da hegemonia petista que havia sido desmascarada no Mensalão. A sobrevida da esquerda foi viabilizada pelo carisma de Lula, pelo curral eleitoral do bolsa família, pelas massas retardatárias do Nordeste e pelas campanhas publicitarias, irrigadas pela corrupção. A derrubada do governo petista pelo movimento de massa conservador encerrou um ciclo político, no plano das ideias, gestado no século anterior.
O recuo histórico remete à Revolução Cubana de 1959. Foi o impacto ideológico deste evento que havia fortalecido a esquerda brasileira e desenhado as reformas ensaiadas pelo governo trabalhista de Goulart, nos anos sessenta. O contexto era o da Guerra Fria e os militares fizeram um Pronunciamento em 1964. Com a redemocratização dos anos 80, as forças de esquerda se aglutinaram no PT e chegaram ao poder, com Lula, em 2003. O final melancólico da nova experiência revolucionaria, desta vez, virou caso de polícia...
As configurações das ideologias políticas em conflito esclarecem seus objetivos estratégicos e as paixões mobilizadas.
A ideologia da esquerda, profundamente influenciada pelo mito da Revolução Cubana, era alimentada pela crença da construção de uma sociedade igualitária, desta vez pela via eleitoral. Era, portanto, indispensável permanecer no poder a qualquer custo e por qualquer meio. A racionalização da salvação dos pobres e oprimidos justificava qualquer manobra mais ousada. A impermeabilidade às lições da história é um de seus traços característicos.
O adversário político era a classe média cultivada e a sua ideologia é a liberal. Seu modelo de sociedade e' o Capitalismo Americano, tão bem-sucedido. Acabou vencendo esta luta esganiçada e esconjurou seu terror da revolução e do comunismo.
Dois complicadores, no entanto: o componente patrimonial da sociedade brasileira emperra o desenvolvimento do capitalismo e o sistema político se deslegitimou por completo (daí o investimento político dos procuradores e juízes).
Esta questão parece apontar para um problema mais geral: teria a democracia representativa, criada no século XIX, se tornada obsoleta no mundo da informação?

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