O objeto de nossos comentários
são as manifestações de junho de 2013 e do início de 2015 no Brasil. A primeira
coisa que chama nossa atenção é o relativo descaso com que foram abordadas pela
mídia internacional. Se compararmos com a importância dada à Primavera Árabe,
os eventos brasileiros receberam muito menor destaque ou importância, ou pior,
houve um grande equívoco em sua interpretação. Por quê? Entendemos que houve um
preconceito na mídia internacional contra um “movimento de direita”. Diríamos
que a mídia foi influenciada por jornalistas oportunistas de “esquerda”.
Restabeleçamos uma narrativa mais ajustada aos fatos.
A iniciativa do Movimento pelo Passe Livre foi transbordada pelas
enormes manifestações de junho 2013. Serviu como catalizador do difuso
sentimento de indignação da classe média com o regime petista, encarnado na
pres. Dilma. A exasperação maior era com a corrupção e com a incúria do
governo. Estas manifestações não estruturadas encontraram seu desague no
movimento a favor do impeachment. Sabe-se do desfecho deste traumático drama nacional.
Este foi apenas o ato final de um processo de deslegitimação da hegemonia
petista que havia sido desmascarada no Mensalão. A sobrevida da esquerda foi
viabilizada pelo carisma de Lula, pelo curral eleitoral do bolsa família, pelas
massas retardatárias do Nordeste e pelas campanhas publicitarias, irrigadas
pela corrupção. A derrubada do governo petista pelo movimento de massa
conservador encerrou um ciclo político, no plano das ideias, gestado no século
anterior.
O recuo histórico remete à Revolução Cubana de 1959. Foi o impacto
ideológico deste evento que havia fortalecido a esquerda brasileira e desenhado
as reformas ensaiadas pelo governo trabalhista de Goulart, nos anos sessenta. O
contexto era o da Guerra Fria e os militares fizeram um Pronunciamento em 1964.
Com a redemocratização dos anos 80, as forças de esquerda se aglutinaram no PT
e chegaram ao poder, com Lula, em 2003. O final melancólico da nova experiência
revolucionaria, desta vez, virou caso de polícia...
As configurações das ideologias políticas em conflito esclarecem
seus objetivos estratégicos e as paixões mobilizadas.
A ideologia da esquerda, profundamente influenciada pelo mito da Revolução
Cubana, era alimentada pela crença da construção de uma sociedade igualitária,
desta vez pela via eleitoral. Era, portanto, indispensável permanecer no poder
a qualquer custo e por qualquer meio. A racionalização da salvação dos pobres e
oprimidos justificava qualquer manobra mais ousada. A impermeabilidade às lições
da história é um de seus traços característicos.
O adversário político era a classe média cultivada e a sua
ideologia é a liberal. Seu modelo de sociedade e' o Capitalismo Americano, tão bem-sucedido.
Acabou vencendo esta luta esganiçada e esconjurou seu terror da revolução e do comunismo.
Dois complicadores, no entanto: o componente patrimonial da
sociedade brasileira emperra o desenvolvimento do capitalismo e o sistema político
se deslegitimou por completo (daí o investimento político dos procuradores e juízes).
Esta questão parece apontar para um problema mais geral: teria a
democracia representativa, criada no século XIX, se tornada obsoleta no mundo
da informação?
Nenhum comentário:
Postar um comentário